quinta-feira, 14 de abril de 2016

10 dicas para quem quer abrir uma franquia



Por João Augusto Ribeiro Penna


1.      FAÇA UMA AUTOANÁLISE CRITERIOSA
O primeiro passo é fazer uma autoanalise com algumas preguntas básicas:
 - Você já teve um negócio próprio?
 -Sabe se relacionar com pessoas?
- Conforme o negócio escolhido, você está ciente de que poderá ter que trabalhar aos finais de semana e feriados? (Pois esses podem ser os dias de maior faturamento da sua empresa).
 - A sua família o apoiará nessa empreitada?
 - Você está ciente de que apesar do ser seu o negócio, você terá que obedecer ao Franqueador e suas normas e padrões?
 - Você tem perfil e habilidade para tratar com funcionários e clientes?

2.      ESCOLHA O NEGÓCIO QUE MAIS COMBINE COM O SEU PERFIL

Não opte por um negócio que esteja na moda.

Escolha uma atividade que lhe dê prazer. Se essa atividade estiver na moda, melhor ainda.
Você deve se sentir bem dentro do seu negócio. O negócio também precisa ter a sua cara.

3.      ANALISE A SUA CAPACIDADE DE INVESTIR
Veja quanto você tem disponível para investir nesse negócio.

Lembre-se de que além dos valores para investimento, você precisará de uma folga financeira para os primeiros meses de operação.

Nem todo negócio consegue atingir o seu ponto de equilíbrio logo após sua abertura, com as receitas cobrindo as despesas.

Não entre em financiamento bancário. Você estará arrumando um sócio que não irá trabalhar e sempre cobrará a parte dele nos lucros, nunca nos prejuízos.

As linhas de crédito, tipo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), são interessantes, mas estude bem se, no seu caso, elas são viáveis.

4.      CUIDADO COM O PONTO COMERCIAL

Este é um dos itens de maior importância para o sucesso do seu negócio. Perde apenas para a escolha da franquia que irá investir.

O ponto comercial pode ter maior ou menor influência, dependendo da atividade escolhida. Por exemplo, para o setor de alimentação, ele é tudo.

Fique atento, o seu investimento para montagem do seu negócio será sempre o mesmo, seja num ponto bom ou num ponto ruim, a diferença é que, no primeiro, o seu faturamento poderá ser o dobro do que ocorrerá no segundo.

Analise, atentamente, as cláusulas contratuais. E utilize a experiência de um advogado especializado em locações.

E mais importante de tudo: negocie sempre, e muito bem. Se você, por impulso, aceitar um valor locatício incompatível com o faturamento do seu negócio, você irá conviver com isso durante todo o período que durar o seu contrato de locação. O seu Franqueador deve saber o percentual máximo que o seu aluguel pode atingir em função do faturamento esperado. Com a experiência dele, você pode projetar o faturamento no ponto escolhi para negociação e, assim, chegar ao valor máximo de aluguel que poderá suportar. Acima desse valor, você reduz o lucro. Abaixo, essa diferença irá incorporar o seu lucro, todos os meses.

5.      NÃO SE ESQUEÇA DOS CONCORRENTES
Fique atento à concorrência ao redor do seu ponto comercial.

Analise os pontos fortes e os pontos fracos deles, e compare com os seus. Nem sempre um concorrente por perto é negativo.

Ele pode ser um grande gerador de tráfego que pode beneficiar a sua loja. Se o seu negócio tiver bons atrativos, poderá se beneficiar do fluxo de pessoas que esse concorrente propiciará. Esse público perceberá o seu diferencial e, certamente, irá querer conhecer o seu negócio. Aí dependerá só de você (loja limpa, bem cuidada e iluminada) e dos seus colaboradores (atendimento cordial, atencioso e com as palavras-chave, bem-vindo, em que posso ajudar, posso sugerir, obrigado por ter vindo e volte sempre, entre outros).

6.      CONHEÇA O FRANQUEADOR
Esta etapa não é tão difícil, mas requer cuidado e atenção.

Veja há quanto tempo o Franqueador está no mercado? Quantas lojas franqueadas ele possui? Quantas lojas próprias ele opera? Franqueador que não tem lojas próprias, nem sempre está atualizado com o dia a dia da operação. Na loja própria é que ele pode sentir na pele o resultado das suas ações de gestão como Franqueador.

7.      CONVERSE COM OS FRANQUEADOS
Este é o melhor termômetro que você pode usar para medir a temperatura da Franqueadora.

Visite lojas e converse com os Franqueados. Veja se tudo aquilo que o Franqueador lhe passou, como sendo apoio da Franqueadora, realmente foi dado aos Franqueados.

Mas atenção: em toda Franqueadora existem Franqueados descontentes. Saiba entender o motivo desse descontentamento e, veja também, se ele é generalizado ou é pontual. Se todos os Franqueados reclamam da mesma coisa, pode ser um problema do Franqueador, mas se, somente poucos reclamam do mesmo ponto, pode ser apenas um problema localizado.
 Na maioria dos casos, esse descontentamento é causado por falhas na avaliação dos itens 1 e 2 desta lista.

8.      ANALISE A CIRCULAR DE OFERTA E O CONTRATO PROFUNDAMENTE
A Circular de Oferta de Franquia, é um documento que o Franqueador, pela lei 8.955, tem que entregar a você 10 dias antes de você assinar qualquer documento ou realizar qualquer pagamento relacionado à aquisição da Franquia.

Na COF, você encontrará também uma minuta do Contrato de Franquia que você irá assinar caso vá até o fim na sua negociação. Leia também com muita atenção.

O Contrato de Franquia é um Contrato de adesão que é igual para todos os Franqueados. Todas as regras da Franquia estão ali definidas para serem obedecidas.

9.      NÃO FAÇA NADA POR IMPULSO
Seja o mais racional possível na análise do negócio que você está entrando.

Lembre-se de que nele, você estará colocando suas economias. Nesta hora, decidir por impulso pode ser um péssimo negócio.

10.  ENTENDA BEM O SEU PAPEL
Siga sempre as normas e padrões definidos pelo Franqueador. Não tente "reinventar a roda".

Se você acha que pode fazer melhor que ele, então faça, mas no seu próprio negócio. Aí você não precisará pagar royalties e taxas. Corra o risco sozinho.

Vale reforçar a citação de Marcelo Cherto, presidente da Cherto Consultoria, é um dos fundadores da Associação Brasileira de Franchising (ABF) e um dos principais responsáveis por difundir os conceitos do Franchising no país: "Numa rede de franquias que se preze, não há muito espaço para "rebeldes sem causa". 

Numa rede de Franquias, você tem que atuar conforme estipulado no contrato e Franquia. É claro que você pode sugerir e apresentar ideias ao seu Franqueador (foi assim que surgiu o Big Mac), mas caberá a ele, desenvolver, testar, aprovar e implantar para toda a sua rede, a sugestão que você apresentou.

O seu negócio não dará nada a você, ele simplesmente lhe devolverá em lucro, todo o tempo e dedicação que você gastar com ele. Sua presença é e sempre será fundamental para o sucesso do seu investimento.

João Augusto Ribeiro Penna
é gerente geral da rede Fran´s Café.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

10 dicas para usar o Cartão de Crédito



Por Lélio Braga Calhau 

A Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio sobre endividamento, divulgada em março de 2016, aponta que cerca de 60% das famílias estão endividadas no país. Dessas, 23,5% estão com dívidas ou contas em atraso e 8,3% não têm como pagar os débitos. Neste cenário tenebroso de endividamento o cartão de crédito aparece como o principal “culpado” com o índice de 77,3 % do tipo de dívidas. Em segundo lugar estão os carnês com 16,7%, financiamento de carro, 12%, crédito pessoal, 10,8%, cheque especial, 7,7%, financiamento de imóveis, 7,7%, entre outras dívidas. Vejam que a diferença do tipo de dívidas entre o primeiro lugar, cartão de crédito, para o segundo lugar, carnês, é de 60%, ou seja, mais da metade dos consumidores que possuem dívidas, devem ao cartão de crédito. O restante das outras dívidas está em patamares bem abaixo, inclusive o famigerado cheque especial. 
 
Quando bem utilizado, o cartão de crédito é um instrumento fantástico, pois propicia que aqueles que possuem uma só fonte de renda possam canalizar os gastos durante o mês para o dia do pagamento, criando um casamento facilitador entre débito e crédito. No entanto, se mal utilizado, ele pode gerar uma onda de endividamento cada vez maior quando o consumidor atrasa o pagamento da fatura ou efetua o famigerado pagamento mínimo. Os juros praticados nessa modalidade são conhecidos como os maiores do mercado financeiro e, em caso de dívidas, são grandes as chances do consumidor não obter apoio na Justiça por conta do princípio do "contrato faz lei entre as partes".

Para ajudar os consumidores com dificuldade em lidar com a situação, o Educação Financeira Para Todos preparou um guia com de dicas para usar o cartão de crédito:

1.    Cartão de crédito não é sinal de "status financeiro". Tem gente que se orgulha de ter o limite do cartão de crédito alto. Fique atento, pois se a financeira te dá o limite alto é porque ela busca uma operação segura e lucrativa. O bom "status" é não ter dívidas e uma reserva financeira. Fuja de ostentação, planeje suas compras e fique atento com seu equilíbrio financeiro. 

2.    Tenha um ou dois cartões no máximo. Quanto mais cartões, maiores as chances de você descontrolar e entrar numa situação de superendividamento. Dois cartões, de bandeiras diferentes, já estão ótimos.

3.    Saiba dizer NÃO. Nunca aceite cartões oferecidos, mesmo que possuam anuidade grátis. Tenha uma regra rígida sobre isso, pois, senão, dentro de algum tempo você se surpreenderá com seis ou oito cartões sem nenhuma necessidade.

4.    Anuidade grátis. No mercado financeiro existe um ditado que "não existe almoço grátis". Então fique esperto, pois, no geral, a primeira anuidade é grátis, mas as posteriores não o são. Valores como R$ 300,00 são cobrados sem nenhuma dificuldade após o período da "anuidade grátis" e já se previna dessas estratégias que sempre prejudicam o consumidor.

5.    Priorize pagar sempre à vista ou no cartão de débito. Corte o mal pela raiz. É duro, dói, é complicado, mas funciona.  Use sempre as alternativas para pagamento imediato e se proteja do efeito "bola de neve" das dívidas. Quando você o detecta a dívida já se tornou enorme e está crescendo com grande velocidade, tornando a vida do consumidor cada vez mais difícil.

6.    A regra de ouro: fuja do pagamento mínimo. Os juros do crédito rotativo de cartão de crédito podem chegar a impensáveis 16% ao mês, em alguns casos. Não caia na tentação de efetuar "pagamento mínimo". Se a fatura chegar e voê não tiver como fazer o pagamento integral, busque uma linha de crédito mais barata. Por exemplo: crédito consignado, CDC etc. Pague o mais rápido que puder e repense seus hábitos de consumo.

7.    Não divida nada. Ataque mais uma vez a origem do problema. Tente desconto para pagamento  à vista, caso a loja não concorde e assim você quiser fazer a compra, pague imediatamente. Não divida nada em quatro, cinco ou dez vezes. Com o tempo, você pode se descontrolar com várias parcelas de fornecedores diferentes e o valor de sua fatura irá aumentar excessivamente. 

8.    Não passe o número do cartão para empresa nenhuma. Algumas grandes empresas como editoras gostam de dar opções para o consumidor pagar assinaturas de revistas com o cartão de crédito. Elas quase não dão desconto no valor à vista e isso leva a crer que pagar com o cartão parcelado em muitas vezes é muito melhor. Na verdade, elas querem mesmo é o número do seu cartão e poderão lançar a renovação do mesmo, apenas te avisando, quando o certo seria pedir sua autorização primeiro. Depois que lançam a renovação, para você cancelar sempre dá muito trabalho e é muito complicado. Priorize pagar via boleto ou depósito em conta corrente.

9.    Cuidado com o limite global do cartão. Um dos perigos de se pagar tudo parcelado é que, eventualmente, você pode chegar ao limite global do cartão, mesmo sem ter atingido o limite da fatura mensal. Nessa situação seu cartão será bloqueado e você pode ficar em situações onde você não está com dinheiro vivo ou não tem como usar cartão de débito. Todo mundo tem o limite mensal que pode ser usado e um limite global que não pode ser ultrapassado. Bateu em algum dos dois, o cartão de crédito já não funciona. 

10.  Destrua o cartão de crédito se você não consegue lidar com ele. Controle-se e se pergunte muitas vezes se aquela compra é boa para você ou não. Não compre nada por impulso, pois isso é o caminho da morte financeira. Se, após tentar se controlar você viu que não possui força para se sustentar perante o impulso de gastar, destrua o cartão de crédito e passe a usar apenas a modalidade débito. Pode parecer uma medida drástica e certamente o é. 

Proteja seu futuro dessa onda consumista e de endividamento. Ninguém vai te ajudar depois que você for para o buraco por conta disso. A economia está num caos e se conseguirmos sobreviver a isso tudo sem dívidas é muito mais fácil. Lembre-se sempre "o dinheiro não aceita desaforo". Se você "quebrar" pelo mau uso do cartão, só você sofrerá duramente as consequências, então não caia nos embalos das compras por impulso. Corte o mal pela raiz.

Lélio Braga Calhau 
é Promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais. Graduado em Psicologia pela UNIVALE, é Mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ e Coordenador do site e do Podcast "Educação Financeira para Todos".

Sobre a Educação Financeira para Todos:
Criado e mantido por Lélio Braga Calhau, Promotor de Justiça do Consumidor no Ministério Público de Minas Gerais, o Portal Educação Financeira Para Todos promove conteúdo gratuito sobre planejamento financeiro. Sua missão é conscientizar os consumidores brasileiros através de artigos, cases, vídeos e reflexões sobre gastos sem planejamento.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Fosfoetanolamina: a perversão do sistema


Por Evanius Wiermann 

A Fosfoetanolamina sintética, assim como várias outras substâncias ao longo das últimas décadas, veio com uma promessa de cura para pacientes com câncer. Porém, uma nova “molécula promissora” aparece todo dia no mercado e, de cada mil dessas, apenas uma chega a se tornar um medicamento registrado. As demais são rejeitadas não só por serem ineficazes, mas também por serem tóxicas. Todo esse ritual de avaliação se estende desde fases pré-clínicas – em que se estudam as drogas em placas de células ou animais em laboratórios –, seguindo até as fases clínicas mais avançadas – testes em humanos – em que se estabelecem os parâmetros para a comercialização da droga. Esses testes são baseados em estudos científicos com esquemas rigorosos para assegurar que o processo tenha mínimas falhas, garantindo uma segurança satisfatória àquele que usa a medicação.

O que está acontecendo é uma perversão de todo este sistema. Políticos, por meio de um Projeto de Lei (PL), autorizaram que uma substância que não passou por todo este processo possa ser administrada, desde que receitada por um médico e que o paciente assine um termo de consentimento, assumindo o risco desta experimentação. A temeridade disto gera uma série de vieses, a começar pelo próprio Conselho Federal de Medicina e incluindo várias entidades médicas que já se postaram contra a prescrição desta droga, o que gera divergências e coloca a relação médico-paciente em risco.

Não nos esqueçamos que drogas como a Talidomida, um medicamento para alívio de náuseas na gestação, foi responsável por uma geração de fetos que nasceram com deformidades devido ao pouco estudo do uso nessa população especial. Para piorar a situação, estudos preliminares conduzidos pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação demonstraram baixíssima atividade antitumoral da Fosfoetanolamina, fazendo com que a ANVISA solicite veto desta PL pelo Executivo.

A prática de experimentação de drogas ainda não aprovadas já acontece em outros lugares, como o “Right-to-try”, em alguns distritos nos Estados Unidos, que desde 2014 permite que pacientes em fases terminais possam ter acesso a drogas que passaram por estudos clínicos de fase I, ou seja, a avaliação em humanos que definem a dose de segurança e eficácia do remédio. Isso não aconteceu ainda com a Fosfoetanolamina, ou seja, não se tem a menor ideia se a dose que as pessoas estão recebendo hoje é a adequada, se poderia ser melhor ou se podem haver interações com outras terapias concomitantemente administradas.

Estudos clínicos, com orçamentos vultuosos para os padrões brasileiros, já foram iniciados - e devemos claramente aguardá-los para que isto traga uma luz sobre esta questão. Inovações consistentes estão acontecendo numa velocidade incrível na Oncologia, como a imunoterapia. Uma forma de permitir que a população possa ter um acesso mais precoce a elas seria encarar a Pesquisa Clínica no país como um investimento, com redução do prazo regulatório de aprovação dos estudos e aumento do fomento financeiro público e privado a esta atividade, que certamente permitirá que incluamos mais pacientes, além de satisfazer o afã daqueles que anseiam por opções avançadas, sublimando a necessidade que eventuais “curas miraculosas” continuem a trazer falsas esperanças àqueles que já padecem de tal morbidade.  


Dr. Evanius Wiermann
é médico oncologista e chefe do serviço de oncologia do Hospital VITA, em Curitiba.