Por Lélio
Braga Calhau
A
Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio sobre endividamento, divulgada em
março de 2016, aponta que cerca de 60% das famílias estão endividadas no país.
Dessas, 23,5% estão com dívidas ou contas em atraso e 8,3% não têm como pagar
os débitos. Neste cenário tenebroso de endividamento o cartão de crédito
aparece como o principal “culpado” com o índice de 77,3 % do tipo de dívidas.
Em segundo lugar estão os carnês com 16,7%, financiamento de carro, 12%,
crédito pessoal, 10,8%, cheque especial, 7,7%, financiamento de imóveis, 7,7%,
entre outras dívidas. Vejam que a diferença do tipo de dívidas entre o primeiro
lugar, cartão de crédito, para o segundo lugar, carnês, é de 60%, ou seja, mais
da metade dos consumidores que possuem dívidas, devem ao cartão de crédito. O
restante das outras dívidas está em patamares bem abaixo, inclusive o
famigerado cheque especial.
Quando
bem utilizado, o cartão de crédito é um instrumento fantástico, pois propicia
que aqueles que possuem uma só fonte de renda possam canalizar os gastos
durante o mês para o dia do pagamento, criando um casamento facilitador entre
débito e crédito. No entanto, se mal utilizado, ele pode gerar uma onda de
endividamento cada vez maior quando o consumidor atrasa o pagamento da fatura
ou efetua o famigerado pagamento mínimo. Os juros praticados nessa modalidade
são conhecidos como os maiores do mercado financeiro e, em caso de dívidas, são
grandes as chances do consumidor não obter apoio na Justiça por conta do
princípio do "contrato faz lei entre as partes".
Para
ajudar os consumidores com dificuldade em lidar com a situação, o Educação
Financeira Para Todos preparou um guia com de dicas para usar o cartão de
crédito:
1. Cartão de crédito não é sinal de "status
financeiro". Tem gente que se orgulha de ter o limite do cartão de crédito
alto. Fique atento, pois se a financeira te dá o limite alto é porque ela busca
uma operação segura e lucrativa. O bom "status" é não ter dívidas e
uma reserva financeira. Fuja de ostentação, planeje suas compras e fique atento
com seu equilíbrio financeiro.
2. Tenha um ou dois cartões no máximo. Quanto mais
cartões, maiores as chances de você descontrolar e entrar numa situação de
superendividamento. Dois cartões, de bandeiras diferentes, já estão ótimos.
3. Saiba dizer NÃO. Nunca aceite cartões oferecidos,
mesmo que possuam anuidade grátis. Tenha uma regra rígida sobre isso, pois,
senão, dentro de algum tempo você se surpreenderá com seis ou oito cartões sem
nenhuma necessidade.
4. Anuidade grátis. No mercado financeiro existe um
ditado que "não existe almoço grátis". Então fique esperto, pois, no
geral, a primeira anuidade é grátis, mas as posteriores não o são. Valores como
R$ 300,00 são cobrados sem nenhuma dificuldade após o período da "anuidade
grátis" e já se previna dessas estratégias que sempre prejudicam o
consumidor.
5. Priorize pagar sempre à vista ou no cartão de
débito. Corte o mal pela raiz. É duro, dói, é complicado, mas funciona.
Use sempre as alternativas para pagamento imediato e se proteja do efeito
"bola de neve" das dívidas. Quando você o detecta a dívida já se tornou
enorme e está crescendo com grande velocidade, tornando a vida do consumidor
cada vez mais difícil.
6. A regra de ouro: fuja do pagamento mínimo. Os juros
do crédito rotativo de cartão de crédito podem chegar a impensáveis 16% ao mês,
em alguns casos. Não caia na tentação de efetuar "pagamento mínimo".
Se a fatura chegar e voê não tiver como fazer o pagamento integral, busque uma
linha de crédito mais barata. Por exemplo: crédito consignado, CDC etc. Pague o
mais rápido que puder e repense seus hábitos de consumo.
7. Não divida nada. Ataque mais uma vez a origem do
problema. Tente desconto para pagamento à vista, caso a loja não concorde
e assim você quiser fazer a compra, pague imediatamente. Não divida nada em
quatro, cinco ou dez vezes. Com o tempo, você pode se descontrolar com várias
parcelas de fornecedores diferentes e o valor de sua fatura irá aumentar
excessivamente.
8. Não passe o número do cartão para empresa nenhuma.
Algumas grandes empresas como editoras gostam de dar opções para o consumidor
pagar assinaturas de revistas com o cartão de crédito. Elas quase não dão
desconto no valor à vista e isso leva a crer que pagar com o cartão parcelado
em muitas vezes é muito melhor. Na verdade, elas querem mesmo é o número do seu
cartão e poderão lançar a renovação do mesmo, apenas te avisando, quando o
certo seria pedir sua autorização primeiro. Depois que lançam a renovação, para
você cancelar sempre dá muito trabalho e é muito complicado. Priorize pagar via
boleto ou depósito em conta corrente.
9. Cuidado com o limite global do cartão. Um dos
perigos de se pagar tudo parcelado é que, eventualmente, você pode chegar ao
limite global do cartão, mesmo sem ter atingido o limite da fatura mensal.
Nessa situação seu cartão será bloqueado e você pode ficar em situações onde
você não está com dinheiro vivo ou não tem como usar cartão de débito. Todo
mundo tem o limite mensal que pode ser usado e um limite global que não pode
ser ultrapassado. Bateu em algum dos dois, o cartão de crédito já não funciona.
10. Destrua o cartão de crédito se você não consegue
lidar com ele. Controle-se e se pergunte muitas vezes se aquela compra é boa
para você ou não. Não compre nada por impulso, pois isso é o caminho da morte
financeira. Se, após tentar se controlar você viu que não possui força para se
sustentar perante o impulso de gastar, destrua o cartão de crédito e passe a
usar apenas a modalidade débito. Pode parecer uma medida drástica e certamente
o é.
Proteja
seu futuro dessa onda consumista e de endividamento. Ninguém vai te ajudar
depois que você for para o buraco por conta disso. A economia está num caos e
se conseguirmos sobreviver a isso tudo sem dívidas é muito mais fácil.
Lembre-se sempre "o dinheiro não aceita desaforo". Se você
"quebrar" pelo mau uso do cartão, só você sofrerá duramente as
consequências, então não caia nos embalos das compras por impulso. Corte o mal
pela raiz.
Lélio Braga Calhau
é Promotor de Justiça de
defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais. Graduado em
Psicologia pela UNIVALE, é Mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ
e Coordenador do site e do Podcast "Educação Financeira para Todos".
Sobre a Educação Financeira para
Todos:
Criado e mantido por Lélio Braga Calhau, Promotor
de Justiça do Consumidor no Ministério Público de Minas Gerais, o Portal
Educação Financeira Para Todos promove conteúdo gratuito sobre planejamento
financeiro. Sua missão é conscientizar os consumidores brasileiros através de
artigos, cases, vídeos e reflexões sobre gastos sem planejamento.
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