Por Aurélio Melo
O mundo
vem sendo fabricado para que vivamos sozinhos. Nosso sonho de consumo é o de
viver sem precisar uns dos outros. Para isso, o mundo produz mercadorias e
serviços que prometem uma vida individualizada no ponto de vista prático.
No
entanto, os problemas são de ordem coletiva, criando uma contradição. Vejamos
um exemplo: o do trânsito. Muitos compram carros ou motos para driblar os
ônibus lotados e os grandes congestionamentos. A indústria automobilística se
adapta à demanda e os problemas só aumentam. E, quando aumentam, as pessoas
buscam, ainda mais, as soluções individuais.
As redes
sociais, os aplicativos de relacionamento amoroso, e muitas outras ferramentas
tecnológicas permitem escolhas individuais e anônimas. No entanto, quanto mais
amigos temos no Facebook, mais necessidade temos de mais amigos ainda. Porque
esses amigos são “quantitativos”. Não diminuem nossa solidão. Ao contrário:
aumentam.
Outro
exemplo: uma nova configuração familiar está surgindo. A família de uma pessoa
só. Há cada vez mais pessoas morando sozinhas por opção e convicção. São
pessoas que não querem coabitar, mesmo tendo amigos ou parceiros amorosos. A
solidão é uma decorrência psicológica da condição social (a de viver sozinho)
típica da pós-modernidade.
No campo
filosófico, enquanto Aristóteles defendia que o homem é um animal gregário,
Hobbes acreditava que os homens se agrupavam apenas visando um interesse em
comum. Isso quer dizer, se preferimos Hobbes à Aristóteles, que os homens
pensam de modo individualista ou, no extremo, de modo egoísta, vendo na solidão
uma opção que abarca ônus e bônus.
Também é
importante destacar que vimos acompanhando a crescente tendência à intolerância
como causa e efeito, simultâneos, da solidão.
Por fim,
uma grande contradição que se apresenta quando se pensa na questão da solidão,
é a de que, de um modo geral, na atualidade, desejamos a liberdade, a falta de
compromissos (ou vínculos), mas não suportamos algumas de suas consequências.
Umas delas: a solidão.
Aurélio Melo
possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia do Desenvolvimento
Humano. É professor e supervisor do curso de Psicologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie
Nenhum comentário:
Postar um comentário